O Banquete Literário do ESCUTA (Espaço Cultural Frei Tito de Alencar), surgiu em 2003 com o objetivo de compartilhar leituras e oportunizar espaço de reflexão e produção de conhecimento. A partir de sua retomada em Julho de 2015 acontece as Quartas 19h na nossa sede, na Rua Noel Rosa, 150 - Pici - Fortaleza/CE. O Banquete faz parte do Projeto Círculos de Leitura e Fantasia ou de como fazer leituras lúdicas na Biblioteca com crianças e adolescentes, com o apoio do Ministério da Cultura
Circula pela web essa história que nos fala sobre o significado da
palavra “Ubuntu”, de origem africana.
Um antropólogo que estava estudando os hábitos e costumes de uma tribo
africana vivia cercado por crianças na maioria dos dias e decidiu fazer um jogo
com elas. Comprou doces da cidade mais próxima e colocou tudo em uma cesta
decorada no pé de uma árvore.
Depois ele chamou as crianças e sugeriu o jogo que ocorreria assim:
quando o antropólogo dissesse “já”, as crianças deveriam correr para a árvore e
o primeiro a chegar lá pode ter todos os doces.
As crianças se alinharam à espera do sinal. Quando o antropólogo disse
“já”, todas as crianças pegaram umas às outras pela mão e correram em conjunto
para a árvore. Todas chegaram ao mesmo tempo, dividiram os doces, sentaram-se e
começaram a mastigar felizes.
O antropólogo foi até as crianças e perguntou por que eles correram
juntos quando qualquer uma delas poderia ter tido os doces só para eles.
As crianças responderam: “Ubuntu. Como pode qualquer um de nós
ficaria feliz se todos os outros ficariam tristes?”
Ubuntu é uma filosofia das tribos africanas que pode ser resumido como
“Eu sou o que sou por causa de quem todos nós somos.”
O Bispo Desmond Tutu deu esta explicação em 2008: “Uma das coisas
em nosso país é o Ubuntu – a essência do ser humano. Ubuntu fala principalmente
sobre o fato de que você não pode existir como um ser humano de forma
isolada. Ela fala sobre nossa interconexão. Você não pode ser humano
sozinho, e quando você tem essa qualidade – Ubuntu – você é conhecido por sua
generosidade. Nós pensamos de nós mesmos muito frequentemente, como
indivíduos, apenas, separados uns dos outros, enquanto você está conectado e o
que você faz afeta o mundo todo. Quando você faz bem, ela se espalha, é
para toda a humanidade.”
Banquete Literário na Semana da Consciência Negra sobre "Ubuntu, a filosofia africana". Participaram: José Augusto, Leonardo Sampaio, Leandson Sampaio e William Leonan.
Assistimos ao vídeo do nosso Pastoril de 2014 antes do ensaio do Pastoril com a educadora Karynny Cabral e avaliamos a apresentação do Pastoril no CUCA do Jangurussu no dia 08.11.15. Participaram: Juliana, Beatriz, Alice, Mayara, Grazielly, Maira, Leonardo, Leandson, Nicole e Ana Luísa.
Banquete Literário em que assistimos ao documentário sobre o Movimento MangueBeat de Pernambuco e lemos o texto "O Ciclo do Caranguejo" de Josué de Castro. Participaram deste Banquete: Jairo Marques, Leonardo Sampaio, Edvânia Ayres, José Augusto, Dennis, Alex, Joélia, Leandson e João Paulo.
A família Silva mora nos “mangues” da cidade do Recife, num “mocambo” que o chefe da família fez quando chegou de cima.
A família é originária do sertão. Desceu do Cariri, na sêca, perseguida pela fome. Fez uma paradinha no brejo, para tentar o trabalho nas usinas, mas não se pôde aguentar com os salários dessa zona, sem ter direito a plantar senão cana. Sem ter, nem ao menos o recurso do xiquexique e da macambira, como no sertão, para quando a fome apertasse.
Nesse tempo espalharam pelo interior um boato que o governo tinha criado um ministério para defender os interesses do trabalhador e que com os fiscais da lei, a vida na cidade estava uma beleza, trabalhador ganhando tanto que dava para comer até matar a fome. A família Silva ouviu esta estória, acreditou piamente e resolveu descer para a cidade, para gozar das vantagens que o governo bom oferece aos pobres.
Logo de chegada a família ouviu que a coisa era outra. Não havia dúvida que a cidade era bonita, com tanto palácio e as ruas fervilhando de automóveis. Mas a vida do operário, apertada como sempre. Muita coisa pros olhos, pouca coisa pra barriga.
O caboclo Zé Luís da Silva não quis desanimar. Adaptou-se: “Quem não tem remédio, remediado está.” Entrou na luta da cidade com todas as forças de que dispunha, mas as forças dele não rendiam que desse para a família viver com casa, roupa e comida. Casa só de 80 mil réis para cima, para comida uns 150 e os salários sem passarem de 5 mil réis por dia.
Começou o arrôcho. Só havia uma maneira de desapertar: era cair no mangue. No mangue não se paga casa, come-se caranguejo e anda-se quase nu. O mangue é um paraíso. Sem o cor-de-rosa e o azul do paraíso celeste, mas com as cores negras da lama, paraíso dos caranguejos.
No mangue o terreno não é de ninguém. É da maré. Quando ela enche, se estira e se espreguiça, alaga a terra terra toda, mas quando ela baixa e se encolhe, deixa descobertos os calombos mais altos. Num deles, o caboclo Zé Luís levantou o seu mocambo. As paredes de varas de mangue e lama amassada. A coberta de palha, capim seco e outros materiais que o monturo fornece. Tudo de graça encontrado ali mesmo numa bruta camaradagem com a natureza. O mangue é um camaradão. Dá tudo, casa e comida: mocambo e caranguejo.
Agora, quando o caboclo sai de manhã para o trabalho, já o resto da família cai no mundo. Os meninos vão pulando do jirau, abrindo a porta e caindo no mangue. Lavam as ramelas dos olhos com a água barrenta, fazem porcaria e pipi, ali mesmo, depois enterram os braços na lama a dentro para pegar caranguejos. Com as pernas e os braços atolados na lama, a família Silva está com a vida garantida. Zé Luís vai para o trabalho sossegado, porque deixa a família dentro da própria comida, atolada na lama fervilhante de caranguejos e siris.
Os mangues do Capibaribe são o paraíso do caranguejo. Se a terra foi feita pro homem, com tudo para bem servi-lo, também o mangue foi feito especialmente pro caranguejo. Tudo aí, é, foi ou está para ser caranguejo, inclusive o homem e a lama que vive nela. A lama misturada com urina, excremento e outros resíduos que a maré traz, quando ainda não é caranguejo, vai ser. O caranguejo nasce nela, vive nela. Cresce comendo lama, engordando com as porcarias dela, fazendo com lama a carninha branca de suas patas e a geléia esverdeada de suas vísceras pegajosas. Por outro lado o povo daí vive de pegar caranguejo, chupar-lhe as patas, comer e lamber os seus cascos até que fiquem limpos como um copo. E com a sua carne feita de lama fazer a carne do seu corpo e a carne do corpo de seus filhos. São cem mil indivíduos, cem mil cidadãos feitos de carne de caranguejo. O que o organismo rejeita, volta como detrito, para a lama do mangue, para virar caranguejo outra vez.
Nesta placidez de charco, identificada, unificada no ciclo do caranguejo, a família Silva vai vivendo, com a sua vida solucionada, como uma das etapas do ciclo maravilhoso. Cada elemento da família marcha dentro desse ciclo até o fim, até o dia de sua morte.
Nesse dia os vizinhos piedosos levarão aquela lama que deixou de viver, dentro dum caixão pro cemitério de Santo Amaro, onde ela seguirá as etapas do verme e da flor. Etapas demasiado poéticas, cheias duma poesia que o mangue não comportaria. Parte-se aparentemente, neste dia, o ciclo do caranguejo, mas os parentes que ficam, derramam caridosos as suas lágrimas no mangue para alimentar a lama que alimenta o ciclo do caranguejo.