quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Carta Político-Pedagógica do ESCUTA: orientações e reflexões para educadores e educadoras do Espaço Cultural Frei Tito de Alencar à luz da Educação Popular.

ESCUTA - Rua Noel Rosa, 150 - Pici - Fortaleza - Ceará - Brasil.

Levando em consideração que não há Educação neutra, como diz Paulo Freire, ou seja, todo processo educacional está sempre politicamente à serviço de ideologias libertadoras ou opressoras, nós do ESCUTA nos posicionamos junto às opções pedagógicas que buscam também a conscientização política das classes oprimidas como forma de libertação das ideologias das classes dominantes atuais, como forma de resistência a todos os modelos pedagógicos que reforçam direta ou indiretamente a exploração das classes oprimidas pelo Sistema Capitalista. Desse modo, a proposta Político-Pedagógica que o ESCUTA vem dando continuidade ao longo dos anos desde o seu início em 1980 está ligada a uma formação continuada que, à luz da atual conjuntura política dos Movimentos Sociais, visa no processo pedagógico com crianças, jovens, adultos ou idosos a tomada de posições políticas a favor e contra, como, por exemplo, a recusa da homofobia, do racismo, do machismo, do sexismo, contra a redução da maioridade penal e de qualquer forma de pena de morte e a favor da igualdade de gênero, dos movimentos LGBTs, da Reforma Agrária, da Economia Solidária, da liberdade de expressão, da liberdade religiosa, das Comunidades Indígenas e Quilombolas e de uma Ecologia e Economia que sejam sustentáveis etc.

Tendo em vista que a Educação Popular historicamente foi o primeiro momento em que a Educação passou a ser pensada a partir da perspectiva das experiências de vida do povo oprimido e não mais a partir das ideologias políticas opressoras das classes dominantes, optamos por construir desde o nosso início a Educação Popular – que se faz com o povo e não para o povo e, por isso, se diferencia de uma “educação populista” – como forma de abrir espaço educativo para uma formação que leve em consideração os saberes das classes populares, mas de forma crítica, unindo Arte e Cultura Popular em uma Política Pedagógica que busca a construção de valores como: a solidariedade, a igualdade, a fraternidade, a autonomia etc. Assim, em nossa formação Político-Pedagógica colocamo-nos contra qualquer Pedagogia que seja autoritária, pois buscamos construir uma Pedagogia Democrática, que preza também pela amorosidade e a horizontalidade, não havendo assim nenhum espaço para o autoritarismo e nenhuma hierarquia entre educadores(as) e educandos (as).

Neste sentido, entendemos que a Educação Popular é um combate à “educação bancária”, ou seja, a Educação Popular que buscamos, necessariamente, rompe com a hierarquia entre educadores(as) e educandos(as) que está presente nos modelos de educação opressores que de certa forma “depositam” os conteúdos nos(as) educandos(as) como se o(a) educador(a) fosse o(a) sabedor(a) de tudo e os(as) educandos(as) fossem meros “depósitos” de conteúdos. Assim, dentro da vivência Político-Pedagógica do ESCUTA, é preciso que haja sempre um rompimento com a “educação bancária” e o fortalecimento de uma proposta educacional que valorize também os saberes dos(as) educandos(as), os seus contextos de vida, as suas histórias, os seus conhecimentos, as suas sabedorias de vida e as suas “leituras de mundo”, como parte integrante do processo pedagógico libertador e sempre crítico das Pedagogias autoritárias.

Em nossas vivências Político-Pedagógicas no Espaço, à luz da Educação Popular, é preciso também que busquemos fomentar atividades Culturais que sejam uma forma de resistência à Invasão Cultural que muitas vezes nos é imposta pela Indústria Cultural através do cinema, da internet, da televisão, do rádio, das revistas, das músicas, das danças, do teatro etc. Ou seja, é preciso que nas nossas vivências Culturais e Pedagógicas no ESCUTA não nos deixemos levar pelos modismos produzidos pela Indústria Cultural criados para o consumismo que apenas fortalece o Capitalismo, de modo que é preciso que as nossas atividades Pedagógicas e Culturais fortaleçam a nossa Cultura Popular, dando espaço para as manifestações culturais populares, mas sempre de forma crítica, não aceitando todas as manifestações populares apenas por serem populares e sim levando em consideração todos os valores que defendemos ao longo dos anos, como modo de resistir aos invasores culturais que de forma massificante nos alienam e nos fazem consumir a cultura e os produtos massificados que não precisamos, sobretudo, dos países Imperialistas.

Como estamos ligados em nossas raízes à Teologia da Libertação, enquanto Comunidade Eclesial de Base (CEB) e temos em nosso nome o mártir cearense Frei Tito de Alencar, a nossa Política Pedagógica também envolve o engajamento e a responsabilidade ligados a uma Rede de diversos Movimentos Sociais que caminham juntos às causas libertárias de reivindicação política que historicamente estão conosco, como a Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP), o Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (CEBI), o Grito dos Excluídos, o Curso de Verão, a Comunidade Margarida Alves do Pici, o Horto Raimunda Silva do Pici, a Capela de São Francisco da Entrada da Lua do Pici, o Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (CEDECA), o Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), a Diaconia, a Anistia Internacional, a Rede de Educação Cidadã (RECID), o Espaço Ekobé da UECE, as Cirandas da Vida, a Articulação Nacional de Movimentos e Práticas em Educação Popular e Saúde (ANEPS), dentre outros. Ou seja, o nosso espaço pedagógico, artístico e cultural também está inserido em outros contextos políticos locais, nacionais e internacionais, de modo que as nossas lutas não podem ficar desligadas das outras lutas de outros Movimentos Sociais que também participamos direta ou indiretamente.

Neste horizonte, à luz também da Teologia da Libertação a qual nos inserimos, a Educação Popular busca a união entre Fé e Política, ou seja, uma espiritualidade Libertadora e Ecumênica, que não é excludente, mas, ao contrário, deve ser inclusiva. Em outras palavras, a espiritualidade em que o ESCUTA está inserido, apesar de ter raízes no cristianismo, não exclui as outras espiritualidades diferentes, sendo sempre aberta a outras formas de espiritualidade, sobretudo, do ponto de vista ético, como troca de saberes entre as diferenças, independentemente da religiosidade ou não a qual fazem parte as pessoas integrantes do Espaço. Dessa forma, do ponto de vista Ecumênico, o nosso posicionamento Político-Pedagógico é também um enfrentamento à intolerância religiosa, sobretudo, no contexto atual de intolerância em que vivemos.

E assim como Frei Tito, posicionamo-nos politicamente a favor do Socialismo Democrático, pois, tendo em vista que todos os modelos autoritários do Socialismo contradizem as nossas diretrizes, pautamo-nos a favor da Justiça Social e da Liberdade que inspiram o Socialismo, mas de forma crítica. É nesta perspectiva que o(a) Educador(a) Popular, no sentido freireano, é um(a) revolucionário(a), que busca a efetivação do Socialismo e da Liberdade, utilizando-se também da Educação Popular como processo da conscientização política em uma Pedagogia sempre engajada.

Enfim, com esta Carta nos situamos em qual contexto Político-Pedagógico estamos inseridos historicamente, ficando claro de que forma a Educação Popular se constrói no ESCUTA, buscando sempre o diálogo e a transparência em nossas ações, para que possamos construir uma sociedade mais ética, fraterna, solidária e mais envolvida com as questões políticas que nos cercam, também como forma de enfrentamento de todas as opressões, à luz da Educação Popular. Assim, como não há neutralidade na Educação, as nossas opções Político-Pedagógicas precisam estar sempre em constante busca da conscientização política em nossas atividades cotidianas, fomentando assim um espaço em que a Educação Popular seja vivenciada em nosso dia-a-dia e a consciência crítica seja sempre o nosso horizonte Político-Pedagógico.

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