Levando em consideração
que não há Educação neutra, como diz Paulo Freire, ou seja, todo processo
educacional está sempre politicamente à serviço de ideologias libertadoras ou
opressoras, nós do ESCUTA nos posicionamos junto às opções pedagógicas que buscam
também a conscientização política das classes oprimidas como forma de
libertação das ideologias das classes dominantes atuais, como forma de
resistência a todos os modelos pedagógicos que reforçam direta ou
indiretamente a exploração das classes
oprimidas pelo Sistema Capitalista. Desse modo, a proposta Político-Pedagógica
que o ESCUTA vem dando continuidade ao longo dos anos desde o seu início em
1980 está ligada a uma formação continuada que, à luz da atual conjuntura
política dos Movimentos Sociais, visa no processo pedagógico com crianças,
jovens, adultos ou idosos a tomada de posições políticas a favor e contra,
como, por exemplo, a recusa da homofobia, do racismo, do machismo, do sexismo,
contra a redução da maioridade penal e de qualquer forma de pena de morte e a
favor da igualdade de gênero, dos movimentos LGBTs, da Reforma Agrária, da
Economia Solidária, da liberdade de expressão, da liberdade religiosa, das Comunidades
Indígenas e Quilombolas e de uma Ecologia e Economia que sejam sustentáveis etc.
Tendo em vista que a
Educação Popular historicamente foi o primeiro momento em que a Educação passou
a ser pensada a partir da perspectiva das experiências de vida do povo oprimido
e não mais a partir das ideologias políticas opressoras das classes dominantes,
optamos por construir desde o nosso início a Educação Popular – que se faz com
o povo e não para o povo e, por isso, se diferencia de uma “educação populista”
– como forma de abrir espaço educativo para uma formação que leve em
consideração os saberes das classes populares, mas de forma crítica, unindo
Arte e Cultura Popular em uma Política Pedagógica que busca a construção de
valores como: a solidariedade, a igualdade, a fraternidade, a autonomia etc.
Assim, em nossa formação Político-Pedagógica colocamo-nos contra qualquer Pedagogia
que seja autoritária, pois buscamos construir uma Pedagogia Democrática, que
preza também pela amorosidade e a horizontalidade, não havendo assim nenhum espaço
para o autoritarismo e nenhuma hierarquia entre educadores(as) e educandos
(as).
Neste sentido,
entendemos que a Educação Popular é um combate à “educação bancária”, ou seja,
a Educação Popular que buscamos, necessariamente, rompe com a hierarquia entre
educadores(as) e educandos(as) que está presente nos modelos de educação
opressores que de certa forma “depositam” os conteúdos nos(as) educandos(as)
como se o(a) educador(a) fosse o(a) sabedor(a) de tudo e os(as) educandos(as)
fossem meros “depósitos” de conteúdos. Assim, dentro da vivência Político-Pedagógica
do ESCUTA, é preciso que haja sempre um rompimento com a “educação bancária” e
o fortalecimento de uma proposta educacional que valorize também os saberes
dos(as) educandos(as), os seus contextos de vida, as suas histórias, os seus
conhecimentos, as suas sabedorias de vida e as suas “leituras de mundo”, como
parte integrante do processo pedagógico libertador e sempre crítico das Pedagogias
autoritárias.
Em nossas vivências Político-Pedagógicas
no Espaço, à luz da Educação Popular, é preciso também que busquemos fomentar
atividades Culturais que sejam uma forma de resistência à Invasão Cultural que
muitas vezes nos é imposta pela Indústria Cultural através do cinema, da
internet, da televisão, do rádio, das revistas, das músicas, das danças, do
teatro etc. Ou seja, é preciso que nas nossas vivências Culturais e Pedagógicas
no ESCUTA não nos deixemos levar pelos modismos produzidos pela Indústria
Cultural criados para o consumismo que apenas fortalece o Capitalismo, de modo
que é preciso que as nossas atividades Pedagógicas e Culturais fortaleçam a
nossa Cultura Popular, dando espaço para as manifestações culturais populares,
mas sempre de forma crítica, não aceitando todas as manifestações populares
apenas por serem populares e sim levando em consideração todos os valores que
defendemos ao longo dos anos, como modo de resistir aos invasores culturais que
de forma massificante nos alienam e nos fazem consumir a cultura e os produtos
massificados que não precisamos, sobretudo, dos países Imperialistas.
Como estamos ligados em
nossas raízes à Teologia da Libertação, enquanto Comunidade Eclesial de Base
(CEB) e temos em nosso nome o mártir cearense Frei Tito de Alencar, a nossa Política
Pedagógica também envolve o engajamento e a responsabilidade ligados a uma Rede
de diversos Movimentos Sociais que caminham juntos às causas libertárias de
reivindicação política que historicamente estão conosco, como a Pastoral da
Juventude do Meio Popular (PJMP), o Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos
(CEBI), o Grito dos Excluídos, o Curso de Verão, a Comunidade Margarida Alves
do Pici, o Horto Raimunda Silva do Pici, a Capela de São Francisco da Entrada da Lua do
Pici, o Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (CEDECA), o Movimento dos
Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), a Diaconia, a Anistia
Internacional, a Rede de Educação Cidadã (RECID), o Espaço Ekobé da UECE, as Cirandas
da Vida, a Articulação Nacional de Movimentos e Práticas em Educação Popular e
Saúde (ANEPS), dentre outros. Ou seja, o nosso espaço pedagógico, artístico e
cultural também está inserido em outros contextos políticos locais, nacionais e
internacionais, de modo que as nossas lutas não podem ficar desligadas das
outras lutas de outros Movimentos Sociais que também participamos direta ou
indiretamente.
Neste horizonte, à luz
também da Teologia da Libertação a qual nos inserimos, a Educação Popular
busca a união entre Fé e Política, ou seja, uma espiritualidade Libertadora e
Ecumênica, que não é excludente, mas, ao contrário, deve ser inclusiva. Em
outras palavras, a espiritualidade em que o ESCUTA está inserido, apesar de ter
raízes no cristianismo, não exclui as outras espiritualidades diferentes, sendo
sempre aberta a outras formas de espiritualidade, sobretudo, do ponto de vista
ético, como troca de saberes entre as diferenças, independentemente da
religiosidade ou não a qual fazem parte as pessoas integrantes do Espaço. Dessa
forma, do ponto de vista Ecumênico, o nosso posicionamento Político-Pedagógico
é também um enfrentamento à intolerância religiosa, sobretudo, no contexto
atual de intolerância em que vivemos.
E assim como Frei Tito,
posicionamo-nos politicamente a favor do Socialismo Democrático, pois, tendo em
vista que todos os modelos autoritários do Socialismo contradizem as nossas
diretrizes, pautamo-nos a favor da Justiça Social e da Liberdade que inspiram o
Socialismo, mas de forma crítica. É nesta perspectiva que o(a) Educador(a)
Popular, no sentido freireano, é um(a) revolucionário(a), que busca a
efetivação do Socialismo e da Liberdade, utilizando-se também da Educação
Popular como processo da conscientização política em uma Pedagogia sempre engajada.
Enfim, com esta Carta nos
situamos em qual contexto Político-Pedagógico estamos inseridos historicamente,
ficando claro de que forma a Educação Popular se constrói no ESCUTA, buscando
sempre o diálogo e a transparência em nossas ações, para que possamos construir
uma sociedade mais ética, fraterna, solidária e mais envolvida com as questões
políticas que nos cercam, também como forma de enfrentamento de todas as
opressões, à luz da Educação Popular. Assim, como não há neutralidade na
Educação, as nossas opções Político-Pedagógicas precisam estar sempre em
constante busca da conscientização política em nossas atividades cotidianas,
fomentando assim um espaço em que a Educação Popular seja vivenciada em nosso
dia-a-dia e a consciência crítica seja sempre o nosso horizonte Político-Pedagógico.
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