Ensaio para o nosso 26º Reisado. Participaram: João Paulo, Herbert, Saulo, Leandson, Deci, Luan, José Augusto, Fiúza, Edvânia, Ana Luísa, Leonardo, Emilly, Júlia, Jairo Marques, Mateus Santos e Alan. - 30.12.15
O Banquete Literário do ESCUTA (Espaço Cultural Frei Tito de Alencar), surgiu em 2003 com o objetivo de compartilhar leituras e oportunizar espaço de reflexão e produção de conhecimento. A partir de sua retomada em Julho de 2015 acontece as Quartas 19h na nossa sede, na Rua Noel Rosa, 150 - Pici - Fortaleza/CE. O Banquete faz parte do Projeto Círculos de Leitura e Fantasia ou de como fazer leituras lúdicas na Biblioteca com crianças e adolescentes, com o apoio do Ministério da Cultura
quinta-feira, 31 de dezembro de 2015
quarta-feira, 30 de dezembro de 2015
Trecho do livro de Paulo Freire "Professora sim, tia não! - Cartas a quem ousa ensinar", de 1993.
“Outro testemunho que não deve faltar em
nossas relações com os alunos é o da permanente disposição em favor da justiça,
da liberdade, do direito de ser. A nossa entrega à defesa dos mais fracos,
submetidos à exploração dos mais fortes. É importante, também, neste empenho de
todos os dias, mostrar aos alunos como há boniteza na luta ética. Ética e
estética se dão as mãos. Não se diga, porém, que em áreas de pobreza imensa, de
carência profunda, essas coisas não podem ser feitas. As experiências que a
professora Madalena F. Weffort viveu pessoalmente durante três anos numa favela
de São Paulo, em que ela, mais do que em qualquer outro contexto, se tornou
plenamente educadora e pedagoga, foram experiências em que isto foi possível.
Em torno de suas experiências em contexto faltoso de tudo que nossa apreciação
e o nosso saber de classe consideram indispensáveis, mas farto de muitos outros
elementos que nosso saber de classe menospreza, ela prepara um livro. Nele,
certamente, contará e analisará a estória de Carlinha de que, tendo falado em
um texto meu, a reproduzo agora.
‘Rondando a escola, perambulando pelas
ruas da vila, semi-nua, sujo na cara, que escondia sua beleza, alvo de zombaria
das outras crianças e dos adultos também, vagava perdida e, o pior, perdida de
si mesma, uma espécie de menina de ninguém.’
Um dia, disse-me Madalena, a avó da menina
a procurou pedindo que recebesse a neta na escola, dizendo também que não
poderia pagar a quota quase simbólica estabelecida pela direção popular da
escola.
‘Não creio que haja problema com relação
ao pagamento. Tenho, porém, uma exigência para poder aceitar Carlinha: que me
chegue aqui limpa, banho tomado, com um mínimo de roupa. E que venha assim
todos os dias e não só amanhã’, disse Madalena. A avó aceitou e prometeu que
cumpriria. No dia seguinte Carlinha chegou à sala completamente mudada. Limpa,
cara bonita, feições descobertas, confiante.
A limpeza, a cara livre das marcas do
sujo, sublinhavam sua presença na sala. Carlinha começou a confiar nela mesma.
A avó começou a acreditar também não só em Carlinha, mas nela igualmente.
Carlinha se descobriu; a avó se redescobriu.
Uma apreciação ingênua diria que a
intervenção da educadora teria sido pequeno-burguesa, elitista, alienada –
afinal, como exigir de uma criança favelada que venha à escola de banho tomado?
Madalena, na verdade, cumpriu o seu
dever de educadora progressista. Sua intervenção possibilitou à criança e à sua
avó a conquista de um espaço – o de sua dignidade, no respeito dos outros.
Amanhã será mais fácil a Carlinha se reconhecer também como membro de uma
classe toda, a trabalhadora, em busca de melhores dias.
Sem intervenção democrática do educador
ou da educadora, não há educação progressista.
Assim como foi possível à professora
intervir nas questões ligadas à higiene do corpo que, por sua vez, se estendem
à boniteza do corpo e à boniteza do mundo, de que resultou a descoberta de
Carlinha e a redescoberta da avó, não há por que não se possa intervir nos
problemas a que antes me referia.”
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segunda-feira, 28 de dezembro de 2015
História e Geografia do Reisado do ESCUTA: uma experiência de Arte, Cultura e Educação Popular na periferia de Fortaleza – 1990-2015.
Primeira formação do nosso Reisado em 1990.
O Reisado do ESCUTA (Espaço Cultural Frei Tito de Alencar) é um Reisado urbano, na periferia de Fortaleza, vivenciado a partir das lembranças de memórias afetivas de vivências das manifestações das festividades natalinas no interior do Estado do Ceará. No ano de 1990, ao relembrar em uma conversa informal das senhoras da comunidade a época em que faziam a chamada “Tiração de Reis” nas suas cidades natal do interior do Ceará, como, por exemplo, Itapajé, Ibiapina, Itarema, Canindé, Trairi etc., houve a ideia de iniciar o Reisado nas madrugadas de porta-em-porta pelas ruas do Pici, cantando, tocando e dançando as músicas de Reisado da tradição da Cultura Popular cearense dos dias 02 a 06 de Janeiro, pedindo as oferendas ou esmolas, celebrando a Festa cristã em homenagem ao nascimento do Menino Jesus, lembrando o chamado “Dia da Gratidão”. Nesta trajetória, o que hoje é conhecido como “Reisado do ESCUTA” foi ganhando as suas características próprias, utilizando o mesmo figurino colorido desde o início que une a tradição portuguesa, africana, cigana e indígena, ganhando estilo próprio também as canções que, repassadas pela oralidade, ganharam sua tonalidade diferenciada, utilizando também outras canções populares, diferentemente de outros Reisados e que vai se mantendo a cada nova geração;
Há outras manifestações de Reisado Popular, como, por exemplo, o Reisado de Caretas, o Reisado de Congo, o Reisado de Espadas etc., todos com as suas características próprias. Uma das singularidades características do Reisado do ESCUTA com as suas especificidades leva em conta, sobretudo, que ele é formado a partir de uma organização comunitária que historicamente preza pela Educação Popular. Desse modo, para além da mera representação da “Tirada de Reis” dentro da Cultura Popular, o Reisado do ESCUTA busca também fortalecer os valores da organização comunitária com a intergeracionalidade, junto com as crianças, jovens, adultos e idosos, mas também de forma crítica, levando em consideração que não há uma Educação neutra, pois todas tem um viés político-ideológico, como dizia Paulo Freire, de modo que a Cultura Popular esteja também a serviço do combate ao racismo, ao machismo, ao sexismo, à intolerância religiosa, à homofobia etc., prezando pelos valores dos Direitos Humanos no engajamento comunitário que se desenvolve também a partir do fazer artístico.
Assim, o Reisado do ESCUTA, que começou em Janeiro de 1990, teve a sua continuidade seguida a cada ano, renovando-se com as novas gerações que foram se formando ao longo dos anos enquanto que as pessoas mais antigas iam repassando para as mais novas o modo de fazer o Reisado na Comunidade, que é dividido geograficamente de acordo com cada área do chamado Grande Pici, onde, além da Comunidade da Fumaça, onde fica situado o ESCUTA, envolve também as subdivisões do bairro, como, por exemplo, a Comunidade da Entrada da Lua, a Comunidade Margarida Alves, a Comunidade do Feijão, o Beco Tranquilo, a Rua Vitória etc. e também em algumas casas no Bairro Jockey Clube, aonde moram alguns integrantes. Desse modo, o aprendizado com o Reisado foi sendo repassado a cada geração, formando uma fraternidade e uma grande amizade na Comunidade, que também fortalece o engajamento comunitário ao longo do ano.
Com as ofertas e os alimentos arrecadados nas madrugadas, a Comunidade Frei Tito faz o seu planejamento anual, que serve também para a manutenção do grupo com a manutenção dos instrumentos, a conservação dos figurinos etc. Ou seja, o Reisado, para além da manifestação cultural do período festivo natalino, amplia-se de forma pedagógica ao longo dos anos. O espetáculo algumas vezes apresentou-se em outros locais culturais da cidade, aparecendo também em matérias de TV e jornais, tendo também um CD amador gravado e repassado para outras comunidades que em alguns períodos também fizeram os seus Reisados. Em outras palavras, o que começou de forma espontânea, acabou por se tornar ao longo dos anos algo cada vez mais organizado, agregando grupos com lazer, prazer, alegria, fraternidade e amizade, ampliando o seu significado dentro da organização comunitária, trazendo valores e contribuindo com a formação humana individual e comunitária.
Em comemoração aos 25 anos do Reisado do ESCUTA, foi gravado também um CD com novas músicas em parceria com o Jairo de Carvalho e Elaine Vigianni do CEBI (Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos) e outros músicos da Cidade, como Pingo de Fortaleza, Eliahne Brasileiro, Inês Mapurunga e Descartes Gadelha. O novo CD, que foi produzido com o apoio da WM Cultural, foi gravado com a nova formação do Grupo de Música do ESCUTA, que se formou a partir das oficinas de percussão no ano de 2013, unindo gerações diferentes e que deu sequência com a formatação criada para o espetáculo de Bumba-meu-boi e do Pastoril, que também fazem parte da programação anual dos festejos da Cultura Popular realizados pelo ESCUTA.
A partir desta experiência informal iniciada em 1990, podemos observar diversos elementos de uma formação pedagógica vivencial repassada para várias gerações diferentes, unindo Arte, Religiosidade, Cultura Popular e Educação Popular, na medida em que há um processo educativo contínuo com aprendizado repassado, sobretudo, através da oralidade, com a formação cultural, na construção de valores como a solidariedade, a generosidade, a fraternidade e a igualdade, dentre outros, de modo que a vivência aberta de uma manifestação da Cultura Popular cearense pelas ruas da periferia de Fortaleza proporciona, além da alegria e da fraternidade envolvidas, também a possibilidade de aprendizado através da sensibilidade artística envolvida, ampliando afetos e ajudando a construir uma organização comunitária que se mantém durante outros períodos e não apenas durante a manifestação, sendo a vivência do Reisado do ESCUTA também uma formação para a vida. Neste horizonte, atuando na periferia de Fortaleza, o nosso Reisado é também uma continuação da luta de Frei Tito de Alencar, que tanto gostava da Cultura Popular cearense, pois Tito também apostava na Educação Popular como instrumento de luta na construção da boniteza e da alegria no mundo!
Músicas de Reisado do ESCUTA no CD "Jogueiros".
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sexta-feira, 25 de dezembro de 2015
Algumas letras de cânticos populares que cantamos no nosso Reisado.
Cântico
de chegada
I
Meu
senhor dono da casa
Minha senhora dona da casa
Minha senhora dona da casa
Abra a
porta e ascenda a luz
Venha
dar a santa esmola
Em nome
de Jesus
II
Deus te
salve oh casa Santa
Onde
Deus fez a morada
Onde
mora o cálix bento
E a
hóstia consagrada
III
Oi de
casa, oi de fora
Mãe
Jeroma, quem esta aí?
É o
cravo, é a rosa?
É a
flor do bulgari
IV
Esta
casa está bem feita
Só lhe
falta o travessão
Viva o
dono desta casa
Viva a dona desta casa
Viva a dona desta casa
Com a
sua obrigação
Não havendo
manifestação na casa
I
Esta
casa está bem feita
Por
dentro, por fora não
Por
dentro o cravo-de-rosa
Por
fora manjericão
II
O sol
entra pela porta
O luar
pela janela
Estou
aqui pela resposta
Não
saio daqui sem ela
Ao
acenderem a luz.
I
Vejo a
luz se ascender
Vejo o
chinelo arrastar
É
alguém que vai sair
Alguma
coisa ela vai dar
Alguma coisa ele vai dar
Agradecimentos
I
Agradeço
a santa esmola
Que nos
deu com alegria
Que Deus o abençoe
A você
e sua família
II
Agradeço
a sua oferta
Dada de
bom coração
Para o
ano aqui estaremos
Nesta mesma ocasião
Despedida
Eu já
cheguei e vou saindo
Até
logo gente de bem
Vamos
embora desta casa
Até o
ano que vem
Não
aparecendo ninguém para dar oferta
I
Meu
senhor dono da casa
Minha senhora dona da casa
Coração de pedra dura
Coração de pedra dura
Esta
casa é tão bonita
Mas o
dono é um pão duro
Quando
há uma pequena esperança
I
Aqui
estou em vossa porta
Põe a
mão na fechadura
Estou
esperando a resposta
Coração
de pedra dura
II
Oi de
casa, oi de fora.
Abra a
porta, ascenda a luz
Venha
ver os Santos Reis
Os Santos Reis do Oriente
Às
famílias.
I
Esta
casa esta bem feita
Do piso à cumeeira
Viva o
dono desta casa
E a sua
companheira
II
Esta
família é tão bonita
Parece
um jardim florido
Viva a
dona desta casa
E
também o seu marido
III
As
famílias se reúnem
Em
busca de liberdade
E
acreditam na união
Formando
comunidades
Músicas do Reisado do ESCUTA - 1990-2015
Primeira foto do nosso Reisado em 1990 no ESCUTA
quinta-feira, 24 de dezembro de 2015
Fotos do Banquete Literário de Ensaio do Reisado - 23.12.15
Ensaio do Reisado para 2016 - Participaram: José Augusto, Herbert Hipólito, Leonardo Sampaio, Edvânia Ayres, João Paulo Roque, Saulo Nicodemos, Leandson Sampaio, Deci Corpi, Ana Luísa, Liandra Brito, Jairo Marques.
Músicas de Reisado do ESCUTA
Herbert, José Augusto e Leonardo
Leandson, Claudeci, Saulo e Herbert
Jairo, Leandson e Deci
Deci, Saulo, José Augusto e Leonardo
Leandson, Liandra, Edvânia, João Paulo e Jairo
Ana Luísa e a sua priminha Sofia
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quarta-feira, 23 de dezembro de 2015
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS (1948).
Versão Simplificada
dos
30 Artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que foi criada
especialmente para jovens.
1.
Todos e Todas Nascemos Livres e Iguais. Nascemos
todos e todas livres. Todos e todas temos nossos pensamentos e ideias. Devemos
ser todos e todas tratados(as) da mesma maneira.
2.
Não Discrimine. Estes direitos são de todos e todas,
independentemente das nossas diferenças.
3.
O Direito à Vida. Todos e todas temos
o direito à vida, e a viver em liberdade e segurança.
4.
Nenhuma Escravatura. Ninguém tem o
direito de nos escravizar. Não podemos fazer de ninguém nosso(a) escravo(a).
5.
Nenhuma Tortura. Ninguém tem o direito de nos magoar
ou de nos torturar.
6.
Você Tem Direitos Onde Quer que Vá. Eu
sou uma pessoa igual a você!
7.
Somos Todos e Todas Iguais Perante a Lei. A lei é igual para todos e todas. Deve tratar-nos
com justiça.
8.
Os Direitos Humanos são Protegidos por Lei. Todos e todas podemos pedir ajuda da lei quando
formos tratados com injustiça.
9.
Nenhuma Detenção Injusta. Ninguém tem o
direito de nos prender sem uma razão válida, de nos manter lá, ou de nos mandar
embora do nosso país.
10.
O Direito a Julgamento. Se
formos julgados, o julgamento deve ser público. A pessoa que nos julga não deve
ser influenciada por outras pessoas.
11.
Estamos Sempre Inocentes até Prova em Contrário. Ninguém deveria ser acusado ou acusada por fazer
algo até que esteja provado. Quando as pessoas dizem que fizemos uma coisa
errada, temos o direito de provar que não é verdade.
12.
O Direito à Privacidade. Ninguém
deveria tentar ferir o nosso bom nome. Ninguém tem o direito de entrar na nossa
casa, abrir as nossas cartas ou incomodar-nos ou à nossa família sem uma boa
razão.
13.
Liberdade para Locomover Todos
e todas temos o direito de ir aonde quisermos dentro do nosso próprio país e de
viajar para onde quisermos.
14.
O Direito de Procurar um Lugar Seguro para Viver. Se tivermos medo de ser maltratados no nosso país,
temos o direito de fugir para outro país para estarmos seguros.
15.
Direito a uma Nacionalidade. Todos
e todas temos o direito de pertencer a um país.
16. Casamento e Família. Todos e todas adultos(as) têm o direito a
casar e a terem uma família se quiserem. Os homens e as mulheres têm os mesmos
direitos quando estão casados ou separados.
17. O Direito às Suas Próprias Coisas. Todos e todas temos o direito
a termos as nossas próprias coisas ou de as partilhar. Ninguém nos deve tirar
as nossas coisas sem uma boa razão.
18. Liberdade de Pensamento. Todos e todas temos o direito
de acreditar naquilo que queremos, a ter uma religião ou a mudar de religião se
quisermos.
19. Liberdade de Expressão. Todos e todas temos o direito
de decidir por nós mesmos, de pensarmos o que quisermos, de dizer o que
pensamos, e de partilhar as nossas ideias com outras pessoas.
20. O Direito de se Reunir Publicamente. Todos e todas temos o direito
de nos reunir com os nossos amigos e trabalhar em conjunto em paz para defender
os nossos direitos. Ninguém nos pode forçar a juntar-mo-nos a um grupo se não o
quisermos fazer.
21. O Direito à Democracia. Todos e todas temos o direito
de participar no governo do nosso país.
22. Segurança Social. Todos e todas temos o direito
a uma casa, medicamentos, educação, a dinheiro suficiente para viver e a
assistência médica se estivermos velhos(as) ou doentes.
23. Direitos do Trabalhador e da
Trabalhadora. Todos
e todas adultos(as) tem o direito a um emprego, a um salário justo pelo seu
trabalho e a inscrever-se num sindicato.
24. O Direito à Diversão. Todos e todas temos o direito
a descansar do trabalho e a relaxar.
25. Comida e Abrigo para Todos e Todas. Todos e todas temos o direito
a ter uma boa vida. As mães, os pais, as crianças, os idosos, as idosas, os desempregados,
as desempregadas, ou os(as) deficientes e todas as pessoas têm o direito a
receber cuidados.
26. O Direito à Educação. A educação é um direito. A
escola primária deve ser gratuita. Devemos aprender coisas sobre as Nações
Unidas e a conviver com os outros e com as outras.
27. Direitos de Autor(a). Os direitos de autor(a) é uma
lei especial que protege as criações artísticas e a escrita; os(as) outros(as)
não podem fazer cópias sem autorização. Todos e todas temos o direito à nossa
forma de vida e a gozar as coisas boas que a arte, a ciência e o conhecimento
trazem.
28. Um Mundo Justo e Livre. Deve existir ordem para que
todos e todas possamos gozar os direitos e as liberdades no nosso país e em
todo o mundo.
29. Responsabilidade. Temos o dever para com as
outras pessoas e devemos proteger os seus direitos e liberdades.
30. Ninguém Pode Tirar-lhe os seus
Direitos Humanos.
terça-feira, 22 de dezembro de 2015
Trecho do livro de Paulo Freire “Professora sim, tia não! – Cartas a quem ousa ensinar”, de 1993.
“Como contexto prático-teórico a escola
não pode prescindir de conhecimentos em torno do que se passa no contexto
concreto de seus alunos e das famílias deles. De que forma entender as
dificuldades durante o processo de alfabetização de alunos sem saber o que se
passa em sua experiência em casa, bem como em que extensão é ou vem sendo
escassa a convivência com palavras
escritas em seu contexto sócio-cultural?
Uma coisa é a criança filha de intelectuais
que vê seus pais lidando com a leitura e escrita, outra é a criança de pais que
não lêem a palavra e que, mais ainda, não vêem mais de cinco ou seis faixas de
propaganda eleitoral e uma ou outra propaganda comercial.
Quando fui secretário municipal de
Educação no governo de Luiza Erundina (1989-1991) levantei, numa das muitas
entrevistas que dei, a questão da possibilidade de que alguma empresa, com a
orientação pedagógica da Secretaria, aceitasse o projeto de ‘plantar frases’ em lugares
significativos de localidades iletradas. A intenção era provocar a curiosidade
das crianças e dos adultos. Frases que tivessem que ver com a prática social da
área e não fossem estranhas a ela. Frases que seriam também aproveitadas pelas
escolas em volta da região da experiência.
Quando vivi e trabalhei no Chile como
exilado, havia visto surpreso e feliz, numa zona de reforma agrária em que se
desenvolvia o trabalho de alfabetização de adultos, frases e palavras gravadas
em troncos de árvores pelos alfabetizandos. A socióloga Maria Edi Ferreira
denominou aqueles camponeses de ‘semeadores de palavras’.
Não quero que se pense que uma
comunidade iletrada hoje se torne letrada amanhã só porque ‘plantamos palavras
e frases’ nela. Não! Uma comunidade vai se tornando letrada à medida que o
exigem novas necessidades sociais, de natureza material e também espiritual. É
possível, porém, antes que as mudanças ocorram, que possamos ajudar as crianças
a ler e a escrever usando artifícios como ‘plantar frases’.”
Paulo Freire - "Professor sim, tia não! - Cartas a quem ousa ensinar", 1993.
quinta-feira, 17 de dezembro de 2015
Trecho do livro de Paulo Freire "A Importância do Ato de Ler", de 1982.
Texto lido no Banquete Literário do dia 16.12.15
Capítulo 2: Alfabetização de adultos e bibliotecas populares – uma introdução[1]
Capítulo 2: Alfabetização de adultos e bibliotecas populares – uma introdução[1]
“O
mito da neutralidade da educação, que leva à negação da natureza política do processo
educativo e a tomá-lo como um quefazer puro, em que nos engajamos a serviço da
humanidade entendida como uma abstração é o ponto de partida para compreendermos
as diferenças fundamentais entre uma prática ingênua, uma prática ‘astuta’ e
outra crítica.
Do
ponto de vista crítico, é tão impossível negar a natureza política do processo educativo
quanto negar o caráter educativo do ato político. Isto não significa, porém, que
a natureza política do processo educativo e o caráter educativo do ato político
esgotem a compreensão daquele processo e deste ato. Isto significa ser
impossível, de um lado, como já salientei, uma educação neutra, que se diga a
serviço da humanidade, dos seres humanos em geral; de outro, uma prática
política esvaziada de significação educativa. Neste sentido é que todo partido
político é sempre educador e, como tal, sua proposta política vai ganhando
carne ou não na relação entre os atos de denunciar e de anunciar. Mas é neste
sentido também que, tanto no caso do processo educativo quanto no do ato
político, uma das questões fundamentais seja a clareza em torno de a favor
de quem e do quê, portanto contra quem e contra o quê, fazemos a educação
e de a favor de quem e do quê, portanto contra quem e contra o quê, desenvolvemos
a atividade política.
Quanto
mais ganhamos esta clareza através da prática, tanto mais percebemos a
impossibilidade de separar o inseparável: a educação da política. Entendemos
então, facilmente, não ser possível pensar, sequer, a educação, sem que se
esteja atento à questão do poder. Não foi, por exemplo - costumo sempre dizer
-, a educação burguesa a que criou ou enformou a burguesia, mas a burguesia
que, chegando ao poder, teve o poder de sistematizar a sua educação. Os
burgueses, antes da tomada do poder, simplesmente não poderiam esperar da
aristocracia no poder que pusesse em prática a educação que lhes interessava. A
educação burguesa, por outro lado, começou a se constituir, historicamente,
muito antes mesmo da tomada do poder pela burguesia. Sua sistematização e
generalização é que só foram viáveis com a burguesia como classe dominante e
não mais contestatória.
Mas
se, do ponto de vista critico, não é possível pensar sequer a educação sem que
se pense a questão do poder; se não é possível compreender a educação como uma prática
autônoma ou neutra, isto não significa, de modo algum, que a educação sistemática
seja uma pura reprodutora da ideologia dominante. As relações entre a educação
enquanto subsistema e o sistema maior são relações dinâmicas, contraditórias e
não mecânicas. A educação reproduz a ideologia dominante, é certo, mas não faz
apenas isto. Nem mesmo em sociedades altamente modernizadas, com classes
dominantes realmente competentes e conscientes do papel da educação, ela é apenas
reprodutora da ideologia daquelas classes. As contradições que caracterizam a sociedade
como está sendo penetram a intimidade das instituições pedagógicas em que a educação
sistemática se está dando e alteram o seu papel ou o seu esforço reprodutor da
ideologia dominante.
Na
medida em que compreendemos a educação, de um lado, reproduzindo a ideologia dominante,
mas, de outro, proporcionando, independentemente da intenção de quem tem o
poder, a negação daquela ideologia (ou o seu desvelamento) pela confrontação entre
ela e a realidade (como de fato está sendo e não como o discurso oficial diz
que ela é), realidade vivida pelos educandos e pelos educadores, percebemos a inviabilidade
de uma educação neutra. A partir deste momento, falar da impossível neutralidade
da educação já não nos assusta ou intimida. É que o fato de não ser o educador
um agente neutro não significa, necessariamente, que deve ser um manipulador. A
opção realmente libertadora nem se realiza através de uma prática manipuladora
nem tampouco por meio de uma prática espontaneísta. O espontaneísmo é
licencioso, por isso irresponsável. O que temos de fazer, então, enquanto
educadoras ou educadores, é aclarar, assumindo a nossa opção, que é política, e
sermos coerentes com ela, na prática.
A
questão da coerência entre a opção proclamada e a prática é uma das exigências que
educadores críticos se fazem a si mesmos. É que sabem muito bem que não é o discurso
o que ajuíza a prática, mas a prática que ajuíza o discurso. Nem sempre,
infelizmente, muitos de nós, educadoras e educadores que proclamamos uma opção
democrática, temos uma prática em coerência com o nosso discurso avançado. Daí
que o nosso discurso, incoerente com a nossa prática, vire puro palavreado. Daí
que, muitas vezes, as nossas palavras ‘inflamadas’, porém contraditadas por
nossa prática autoritária, entrem por um ouvido e saiam pelo outro - os ouvidos
das massas populares, cansadas, neste país, do descaso e do desrespeito com que
há quatrocentos e oitenta anos vêm sendo tratadas pelo arbítrio e pela arrogância
dos poderosos.”
[1] Palestra
apresentada no XI Congresso Brasileiro de biblioteconomia e Documentação,
realizado em João Pessoa em janeiro de 1982.
Paulo Freire - A Importância do Ato de Ler
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