Texto do Banquete Literário do ESCUTA do dia 02.12.15.
"Novembro é
oficialmente o Mês da Consciência Negra no Brasil. Apesar de ser importante e
necessária, especialmente por se tratar de um país que teve séculos de
escravidão de pessoas negras, essa data ainda é bastante incômoda para uma
parcela da população. Mesmo assim, o mês de novembro mobiliza o movimento negro
e desperta um interesse temporário nas escolas, instituições e noticiários, que
costumam abordar o tema do racismo superficialmente no período próximo ao dia
20.
Aqueles que
falam dessa data muitas vezes se recordam de Zumbi dos Palmares, que é o grande
ícone da luta contra o racismo por sua resistência contra a escravidão. Mesmo
na escola, muitos ouvimos falar de Zumbi e aprendemos que ele foi líder do
Quilombo de Palmares, onde negras e negros que fugiam da escravidão podiam
encontrar refúgio e organização política. No entanto, pouquíssimos sabem de
quem se tratava Dandara dos Palmares, uma figura tão importante quanto Zumbi.
Dandara foi
esposa de Zumbi e, como ele, também lutou com armas pela libertação total das
negras e negros no Brasil; liderava mulheres e homens, também tinha objetivos
que iam às raízes do problema e, sobretudo, não se encaixava nos padrões de
gênero que ainda hoje são impostos às mulheres. E é precisamente pela marca do
machismo que Dandara não é reconhecida ou sequer estudada nas escolas.
Lamentavelmente, nem mesmo os movimentos negro e feminista mencionam Dandara
com a frequência que deveriam. De um lado, o machismo, que embora conte com o
trabalho árduo das mulheres negras, não lhes oferece posição de destaque e voz
de decisão. Do outro, o racismo, que só tem memória para mulheres brancas.
Nós,
mulheres negras, crescemos sem nos encontrarmos nos livros de história, poesia,
literatura ou sociologia. O machismo racista da sociedade parece nos dizer que
não temos o direito de encontrar representatividade e inspiração para rompermos
as amarras da discriminação institucional. Muitas sabemos de Dandara e outras
mulheres negras importantes somente devido a nossas próprias pesquisas solitárias,
ávidas por descobrir. E, infelizmente, somos nós as mesmas pessoas que lutam
para que essas mulheres não sejam apagadas da história.
Alguns
pesquisadores, como o professor Kleber Henrique, evidenciam o papel dessa
grande líder e falam de sua sede por liberdade. Mas salientam que até hoje não
se tem conhecimento de como era o seu rosto ou de onde veio. Se Dandara fosse
uma mulher negra contemporânea, provavelmente seria mal vista por todos que se
negam a enxergar o racismo. Dandara não queria acordos pela metade e nem se
vendia em troca de libertação parcial. Morreu como a heroína que foi em vida e,
graças à sua luta, hoje temos força para continuar a batalha contra o racismo
brasileiro.
Portanto,
me recuso a aceitar que Dandara seja figura esquecida ou que continue sendo
lembrada sob a sombra masculina de Zumbi. A mulher negra quer e conquista seu
espaço, pois tem força, inteligência e capacidade para romper com paradigmas
machistas e racistas. O mês da Consciência Negra precisa ser cada vez mais o
mês de Dandara dos Palmares, da autonomia absoluta da mulher negra e da
completa liberdade feminina, que protagoniza as trincheiras da resistência
contra a discriminação por cor e gênero. Dandara vive."
Por Jarid Arraes. Novembro 7, 2014 10:07.
Fonte: http://www.revistaforum.com.br/questaodegenero/2014/11/07/e-dandara-dos-palmares-voce-sabe-quem-foi/
Dandara
[N’zambi]
[N’zambi]
Princesa da beleza negra, guerreira, líder forte, poder transformador
Encanta o quilombo, mostra de frente tua garra que dá força pra lutar
Despindo as mentes da submissão, mulher negra, quilombola de exjá
Yansã beijou Xangô, arrancou-lhe as armas, pôs em punhos e lhe dominou
Dandara, Dandara, Dandara, Dandara
Transfere tua essência como exemplo as mulheres que se negam a lutar
As negras oprimidas em favelas e escolas, domésticas do lar
Junta e organiza por que juntas são mais uma, com mais força e maior
Romper a hipocrisia da autoridade que a burguesia vai se aniquilar
Seus olhos negros firmes da esperança da vitória que está para chegar
Que sambam sobre os peitos dos homens fortes e guerreiros querendo te conquistar
Tua força é divina e ancestral e pega fogo e é fogo de orixá
Vem com teu sorriso, abre os braços, solta as tranças vem de novo me acalenta
Encanta o quilombo, mostra de frente tua garra que dá força pra lutar
Despindo as mentes da submissão, mulher negra, quilombola de exjá
Yansã beijou Xangô, arrancou-lhe as armas, pôs em punhos e lhe dominou
Dandara, Dandara, Dandara, Dandara
Transfere tua essência como exemplo as mulheres que se negam a lutar
As negras oprimidas em favelas e escolas, domésticas do lar
Junta e organiza por que juntas são mais uma, com mais força e maior
Romper a hipocrisia da autoridade que a burguesia vai se aniquilar
Seus olhos negros firmes da esperança da vitória que está para chegar
Que sambam sobre os peitos dos homens fortes e guerreiros querendo te conquistar
Tua força é divina e ancestral e pega fogo e é fogo de orixá
Vem com teu sorriso, abre os braços, solta as tranças vem de novo me acalenta
Música "Dandara" da banda N'Zambi.
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